O que dizer de um homem que criou a teoria da computação e, não satisfeito, arregaçou as mangas e assumiu um papel central na construção dos primeiros computadores? De um matemático que venceu com cálculos as bombas de Hitler?
No mínimo, que merecia uma estátua no Vale do Silício, um enterro com glórias de herói, que seu nome deveria virar nome de ruas, avenidas e universidades. Mas esse homem morreu esquecido.
Alan Turing nasceu em 1912, em Londres. Turing se aplicou faculdade de Matemática, e tornou-se conhecido dos professores de Cambridge por seu raciocínio brilhante.
Em 1937, publicou um artigo Sobre as Máquinas Computáveis que teve uma importância enorme para a matemática pura: nele, provava que existiam cálculos impossíveis de serem feitos. Mas também trazia uma aplicação prática que ninguém, na época, percebeu. Turing imaginara uma máquina capaz de fazer todos os cálculos possíveis, desde que lhe dessem as instruções adequadas. O artigo não fazia menção a chips ou processadores continha apenas fórmulas matemáticas. Mas a descrição era exatamente daquilo que, mais tarde, mudaria o mundo com o nome de computador.
Por falar em mudar o mundo, naquele momento surgia um austríaco obcecado por impor suas idéias ao planeta: Adolf Hitler. Um de seus trunfos era uma máquina chamada Enigma um sistema de engrenagens capaz de embaralhar as letras das mensagens antes da transmissão por telégrafo. Os alemães consideravam esse código indecifrável. Caberia a Turing, convocado em 1939 pelo exército britânico, decifrá-lo.
Os submarinos alemães afundavam 200.000 toneladas de embarcações todo mês e o único jeito de descobrir a posição dos submarinos era decifrar suas mensagens.
Turing tirou da cabeça as máquinas teóricas e sujou as mãos na graxa de engenhocas reais. Uma delas, o Colossus, é tataravó do PC no qual digito agora. No começo, elas demoravam semanas para tornar uma mensagem compreensível.
Mas, em 1942, os ingleses já decodificavam 50 000 mensagens por mês, uma por minuto. Os submarinos alemães eram abatidos como moscas. O preconceituoso Hitler, cuja equipe olímpica tinha sido derrotada em 1936 pelo atleta negro, o americano Jesse Owens, perdia a guerra para um intelectual homossexual.
Alguns afirmam que o trabalho de Turing encurtou a guerra em pelo menos três anos. Era comum comandantes aliados terem em mãos mensagens antes que elas chegassem aos destinatários alemães.
Quando a polícia condenou Turing em 1952 por grande indecência, em outras palavras, homossexualismo, ninguém o defendeu dizendo que se tratava de um herói de guerra ou gênio da matemática. Para enfrentar o julgamento, teve que se afastar de suas pesquisas sobre inteligência artificial, e Turing acabou condenado a um tratamento com hormônios que arruinou seu físico.
Na noite de 7 de junho de 1954, atormentado, o matemático deitou-se na cama e mordeu uma maçã. Na manhã seguinte, não acordou. A fruta havia sido mergulhada numa jarra de cianeto.
A associação da maçã com conhecimento se tornou popular com Isaac Newton, porém, a famosa mordida na maçã significa a aquisição do conhecimento. Pelo lado bíblico, simbolizaria a sedução provocada pelos seus produtos e a busca por nossos desejos.
A mordida na maçã do Turing com as cores do movimento gay, gera a possibilidade de que o logo de uma grande empresa de computadores seja uma homenagem à Turing. Maçã em inglês é apple, e há um trocadilho: mordida em inglês é bite, que obviamente lembra byte. E byte, é coisa de computador.
De qualquer forma, o inventor do computador salvou o mundo do nazismo, e sua recompensa foi uma cela de prisão, condenado por homossexualismo.
Em 11 de Setembro de 2009, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ofereceu um pedido póstumo de desculpas ao matemático Alan Turing, pelo tratamento "desumano" que recebeu das autoridades britânicas e que o levou ao suicídio em 1954.
Noel, adorei a matéria. Parabéns!
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